Atualizado em 23/01/2021
ARTHUR VIRGÍLIO NETO - Decidir com a razão
Arthur Virgílio Neto, prefeito de Manaus
O processo de vacinação no Brasil transcorre lentamente e cheio de percalços. As intervenções do presidente Bolsonaro - que sempre boicotou o enfrentamento à pandemia e, agora, boicota as vacinas que a Ciência cria para salvar vidas - são perniciosas e provincianas.
Responsável por muitas mortes, a peso de um negacionismo pré-histórico, levava às ruas, sistematicamente, multidões ingênuas, sem máscara, sem álcool em gel, gerando aglomerações aliadas do vírus.
O Amazonas está à deriva. O clima é de perfeita anomia. Pode-se afirmar que, no Brasil em geral, as tentativas de isolamento social, infelizmente, não deram certo. Dessa forma, as vacinas terminarão virando paliativos e não solução definitiva. E aí surgem as ideias de medidas restritivas que, não raro, levam governantes ao recuo e à mesmice. Há quem fale enfaticamente em lockdown, sem trabalhar as bases que poderiam vir a sustentar iniciativa tão delicada.
O primeiro pressuposto para se manter apenas os serviços realmente essenciais em funcionamento é colocar recursos diretamente nas mãos das famílias mais despossuídas. Como aconteceu no episódio dos R$ 600,00, idealizados pelo competente Pedro Guimarães e distribuídos pela Caixa Econômica, por ele presidida. Esse dinheiro sustentou seres humanos, aqueceu o comércio, garantiu e gerou empregos. Depois, a equipe econômica chegou à conclusão de que o grave quadro fiscal somente suportaria prorrogar o benefício, cortando-o pela metade, até o fim do ano passado. E o ministro Paulo Guedes resiste a repetir a dose neste 2021.
Afinal, o resultado de 2020 mostrará um déficit primário nunca inferior a R$ 900 bilhões. Considero pouco responsável que os fundos de um auxílio social, que vejo inevitável, saiam diretamente do Tesouro Nacional. Penso, então, em duas alternativas de curto prazo e numa hipótese mais demorada, porém necessária e viável, que viria de um vigoroso processo de privatizações.
Vamos, porém, às perspectivas mais urgentes:
- a) As reservas cambiais brasileiras estão, se arredondarmos, em US$ 360 bilhões. Daí seriam retirados US$ 150 bilhões, com o objetivo de evitar uma recessão/depressão de dolorosas proporções.
- Desvantagens: o Brasil abriria mão de ser um dos países com mais solidez nesse campo. E uma eventual crise de efeitos mundiais nos colocaria menos robustos para enfrentá-la;
- b) O Banco Central partiria para expandir a base monetária, ou seja, emitiria moeda seguro de que a atividade econômica está tão deprimida, que não haveria perigo de explosão inflacionária. E qualquer improvável sinal amarelo teria como resposta o imediato aumento das taxas de juros.
Não gostaria de viver uma situação em que essas duas alternativas merecessem ser apreciadas. Tenho a cabeça fixada na responsabilidade fiscal e isso foi posto em prática em todos os governos que chefiei. Apenas registro que as finanças do país estão quebradas e que será inevitável o auxílio social. Logo, haveria momentâneo e calculado afrouxamento que, vencida a pandemia e retomada plenamente a atividade econômica, retornaríamos ao status quo ante, com determinação e consciência.
A partir daí, daria para se conversar adultamente sobre medidas restritivas e, até mesmo, o lockdown. É bom anotarmos que medidas extremas, se não forem cuidadosamente planejadas, podem resultar em conflitos físicos, em desespero e em recrutamento de “soldados” pelo tráfico.
Minha opção seria a alternativa ‘B’.
*O autor é diplomata, foi deputado federal, senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique Cardoso, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, líder das oposições no Senado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e três vezes prefeito da capital da Amazônia – Manaus*